domingo, 28 de novembro de 2010

Capítulo 16

Escolhido pelos Deuses

 Thanatos e Peco se levantam, não dormiram nada a noite, mas a jornada tinha que continuar. Eles arrumam as poucas coisas que carregavam consigo e partem, adentram em uma caverna não muito convidativa dentro da montanha negra.

A caverna era mau iluminada, não conseguiam ver mais do que três metros a frente. O pouco que viam eram pedras de um azul escuro, lisas como se fossem cobertas por uma espécie de limbo. O silêncio dentro da gruta era tão grande que chegava a incomodar, Thanatos temia até respirar fundo com medo de quebrar o silêncio do lugar.

Eles caminharam sem rumo pela caverna por horas, até que algo chamou atenção deles. No meio daquela escuridão eles começaram a ver uma fraca luz azul, andaram na direção dessa luz, logo estavam cercados por ela, não mais na escuridão total, mas ainda no silêncio ensurdecedor.

Agora era possível ver melhor aquela caverna, era feita de pedras azuis e muito reluzentes, mas o formato, o jeito como as pedras estavam, não parecia uma caverna natural, era como se alguém a tivesse feito, escavado. O teto não era muito alto e não tinha estalactites, muito menos estalagmites, havia vários veios de água corrente que brotavam do chão e das paredes. Naquele cenário estranho e exótico eles continuaram andando por mais algumas horas.
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— Lá está lá! Glast Heim! A cidade capital! - Érebo falava de cima de uma pequena elevação rochosa que havia no chão, estava tão empolgado que nem parecia se lembrar do amigo.

— Não temos tempo a perder, Maeros ainda está mal, vamos logo! – Diz Sísifo enquanto afaga os cabelos de Maeros.

Maeros continuava deitada no carrinho, desacordada, em seu rosto uma expressão mista de desconforto e tristeza. Sísifo a olhava, seu rosto, seu corpo e se lembrava da vingança; Sorriu levemente, mas logo desfez o sorriso para que ninguém notasse.

— Quando chegarmos, Érebo e Arthemis devem ir direto à abadia - Disse Mayara.

— Nada disso! Todos nós iremos à abadia! - Disse Sísifo inconformado - Você por acaso tem algo melhor para fazer do que tentar ajudar nossa querida Maeros? - Ele fala com um tom repreensivo.

Todos ficam em silêncio e apenas concordam com ele. O grupo adentra a capital, juntos. Sísifo não conseguia parar de sorrir, era como se tivesse recebido uma notícia boa.

Eles rapidamente chegam na abadia, Arthemis encaminha Maeros para os sacerdotes e os outros membros do grupo ficam no saguão esperando.

— E então Érebo? O que vai fazer agora? - Perguntou o caçador, com o sorriso alegre no rosto.

— Vender, é claro! Consegui muitos itens valiosos nessa aventura, vou arrecadar uma fortuna! Ficarei rico finalmente! - Érebo se empolga de alegria

— Bom, muito bom... E você Mayara? - Diz Sísifo se virando para a monja.

— Vou pra Geffenia, há muitos monges por lá, posso aprender muita coisa, ficar ainda mais forte... - Ela diz com seu incomparável jeito sereno.

— Creio que Arthemis ficará aqui na abadia, para dividir a experiência com os mais novos... – Sísifo se senta em uma cadeira perto da parede, se espreguiça e relaxa ali, fechando os olhos e esperando o tempo passar.

— Sísifo, e você? Vai fazer o que agora? - Érebo se senta ao lado do caçador, deixa seu machado recostado na parede e acena pra Mayara sentar ao lado dele.

— Eu vou continuar minha vida de aventuras... E estou pensando e levar Maeros comigo, se ela quiser, claro. Responde Sísifo sorrindo.

— Mas e quanto ao... - Érebo tenta se lembrar de algo, ou alguém, mas não consegue.

— O que? - Sísifo pergunta apreensivo.

— Nada... Pensei ter lembrado algo aqui... Alguém... Mas... Ah! Não é nada! – Érebo sorri.

Sísifo aumenta ainda mais o sorriso, não sabia porque os companheiros de grupo não se lembravam de Thanatos, na verdade estava pouco se importando, o que importava para ele é que sua vingança estava saindo melhor que o planejado.
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Depois de horas da caminhada, Peco e Thanatos encontram a saída da caverna, mas não vêm a luz do sol, era a mesma iluminação azul, embora mais forte. Thanatos olha para o céu, mas não consegue enxergar nada além de um firmamento azul cintilante sem estrelas nem lua.

— Estranho... Pelo tempo que andamos pensei que chegaríamos aqui de manhã ainda...

Peco apenas olha para todos os lados, tão confuso quanto seu amigo. Juntos, eles caminham por aquele esdrúxulo lugar, havia a mesma areia de praia, o mesmo mar de antes. Era um lugar quente, não tanto quanto a savana de sograt, mas ainda assim era quente, porém a brisa marítima soprava incessantemente no local, dando uma sensação de refrescância ótima.

Eles seguem e andam por alguns minutos, até se depararem com outra montanha, mas dessa vez muito maior, perdesse de vista sua altura e não havia cavernas dessa vez, era uma muralha impedindo qualquer um de passar.

— A gente tem apenas duas opções; Voltar... Ou seguir para o norte. Voltar está fora de questão, seguir para o norte nós acabaríamos voltando para Glast Heim... – Ele olha para cima, tentando ver o cume da montanha.

Peco sabe que fora feito para caminhar e correr, não para escalar. Olha para as grandes patas que firmavam bem no chão e depois para a montanha; Se tentasse subir, com toda certeza cairia antes mesmo de passar do primeiro metro.

— Peco... Você foi meu melhor amigo... Mas eu não vou voltar... E você não pode vir... - Diz o templário.

Peco entende o recado, fica imóvel, observando o amigo.

— Você foi o único que me seguiu até o fim Peco... O único que não me abandonou, esteve comigo nos momentos bons e ruins. Queria que você pudesse vir comigo. mas seria egoísmo meu... Você agora é livre Peco, pode ir para onde quiser, eu te agradeço por tudo meu amigo, nunca te esquecerei, queria um dia poder retribuir tudo... – Thanatos abraça seu amigo

Peco apenas abaixa a cabeça, como se quisesse chorar... Mas "monstros" não choram... Então ele apenas afaga as costas de Thanatos com seu bico.

— Acho que isso é um adeus... Provavelmente não nos veremos mais amigo. Mas ainda assim, sempre serei seu amigo, pode contar comigo sempre que precisar! – Thanatos suspira pesadamente e pega suas coisas, coloca nas costas e faz menção de começar a escalar.

— Seja muito feliz Peco, você merece! – O templário sorri para seu amigo e começa a subir a montanha.

Peco se senta no mesmo lugar e apenas observa seu amigo subir, ficando cada vez menor à medida que sobe, sumindo na vista... Ele sabe que nunca mais veria seu amigo, era um último adeus.

Thanatos escala a montanha negra, aos poucos ela muda de cor, ficando branca; Era neve. Ele não via neve desde seu tempo de criança, aquilo lhe trás lembranças, de sua casa, sua infância, sua mãe...

O céu azul, a neve branca... Thanatos para de escalar por um momento e abraça a montanha, era como se abraçasse sua própria mãe, sentia aquela cálida luz azul banhar seu rosto, era como o luar de uma noite.

Lembra de sua mãe, coisa que não fazia há anos; Seu rosto amoroso, seus longos cabelos de um azul escuro e intenso, igual o céu noturno da primavera, sua pele era tão branca quanto aquela neve. Não consegue se lembrar de nada além do seu rosto e seu jeito, sempre tão carinhosa, tão amável... Nix... Esse era o nome dela, por muito tempo havia esquecido, na verdade nunca soube o que aconteceu com ela, ele tenta se lembrar porque saiu de casa, porque nunca voltou, mas ao fazer isso ele sente o frio. A neve entrara por sua armadura tornando o seu corpo extremamente gelado, foi tirado de suas lembranças na hora, esqueceu completamente o que estava pensando e apenas se levantou, sacudiu o corpo e a armadura para que a neve fria caísse. Logo ele estava escalando a montanha novamente; Parecia não ter fim, parecia que escalaria até os portões de Valhalla tamanha a extensão que já tinha percorrido.

O ar já lhe faltava, não conseguia respirar direito, respirava fundo, mas o ar gelado e rarefeito não o deixava respirar muito, sentia tontura, as pernas fraquejavam, a visão estava turva, parou de escalar quando não conseguiu mais sentir os dedos. Ele fecha os olhos, sentiu uma imensa vontade de dormir, mas não o fez. Ficou pensando em tudo o que já tinha feito na vida, desde a época em que conheceu Maeros, até a hora em que se despediu de Peco.

— No fim Foi divertido... – Ele balbucia quase incompreensível pelo frio e cansaço.

Ele sorri, fazendo uma introspecção profunda de sua vida; Ele sente que no geral ele foi feliz, fez as coisas certas, errou sim, mas todos erram, isso é natural... Se morresse ali não ficaria triste, reencontraria Maeros e quem sabe ela o perdoaria.

Thanatos fica imóvel, como se esperasse a morte vir... Não sentia mais os braços e as pernas, não sentia mais frio. Sua respiração fica fraca e ele continua imóvel.

— Thanatos! - Diz uma forte firme, tão firme e séria quanto a de Mayara.

Ele escuta uma voz, alguém o chamando, pensa em levantar, mas não encontra forças, apenas escuta em silêncio.

— Levante-se guerreiro!

Ele sente um súbito sopro de energia e se levanta, em sua frente ele vê um velho de barba branca, o velho tinha um chapéu torian, similiar à chapéus chinêses, o acessório tapava um de seus olhos que dava um ar de mistério ao velho. Apesar da idade, aparentemente ele tinha um ar muito imponente e parecia também muito forte.

— Quem é você? – Thanatos pergunta ainda meio confuso.

— Não me reconhece? Sou Odin, o rei dos Deuses. Aquele pelo qual todos clamam nos momentos difíceis. Aquele por quem seu amigo chama. – A voz de Odin ecoa pelo ar.

Thanatos fica ainda mais confuso e agora surpreso, era aquele em sua frente Odin?

— Thanatos, filho de Nix... Parabéns, foi o único a passar no meu teste... – Odin pousa a mão no ombro de Thanatos.

O templário continua perplexo com aquilo tudo, não conseguia acreditar que estava diante de Odin, será que estava delirante? Seria esse o delírio final, antes da morte?

— Muitos foram enviados para A missão... Mas somente você, Thanatos, foi capaz de chegar até aqui... Todos sucumbiram no caminho...

O templário sente vontade de perguntar várias coisas, mas acha melhor ficar calado e escutar tudo.

— Você agora ficará imcubido da pesada missão de exterminar todo Mau do mundo! - Brada o deus.

— E-exterminar o mau? M-mas Senhor... Que mau? – Ele continua confuso.

— Você ficou vários anos escalando essa montanha e não sabe como está o mundo meu jovem... - Esclarece a dúvida de Thanatos.

— Anos? Meu senhor, eu comecei a escalar a algumas horas atrás...

— O que para você passou como horas, para o mundo passou como anos... Eu lhe mostarei.. – Odin toca a mão na testa de Thanatos.

O templário entra em uma espécie de transe; Sem sair do lugar ele viaja por todo o mundo e não gosta de nada do que vê.

Destruição, guerras, máquinas que matam, pessoas que roubam, enganam, traem, ofendem... O mundo está um caos, ninguém mais tem compaixão, ninguém ajuda, ninguém se importa com o próximo, tudo o que querem é poder, mais nada. Ele se pergunta como seus amigos estavam naquele mundo, se também haviam sido corrompidos pelo mau. Em seu âmago sente uma vontade intensa de ajudar a todos.

— Vê Todo o mau que assola essa terra? Você, Thanatos é o únido e ainda puro de coração nesse terra, o único capaz de acabar com isso, de mudar o mundo!

— Mas como farei isso senhor? - Pergunta Thanatos

— Acabará com todos. - Responde o deus;

— C-como? – O templário se surpreende com as palavras de Odin.

— Você veio até a terra para uma missão, é echada a hora de cumpríla! Você vai purificar a terra, purificar a todos do mal que assola o mundo, para nós, os Deuses podermos recuperar o mundo! - Diz o deus.

— P-purificar? Purificar como? - Pergunta Thanatos ainda confuso.

Odin levanta uma mão ao céu; Com um clarão de luz uma espada aparece em suas mãos.

— Essa espada foi feita pelos anões ferreiros, ela também foi encntada com a magia dos elfos luminosos. – Odin estende a espada para Thanatos.

O templário segura a espada com duas mãos, era uma espada enorme, uma montante que tinha quase o mesmo tamanho que ele. Com certa dificuldade ele a empunha, era mais pesada do que parecia.

— Logo a espada te reconhecerá como legitimo dono e se tornará leve como o vento.

— Odin, senhor, eu não sei se posso fazer isso... - Diz Thanatos negando a missão

— Você só não pode como irá fazer! - Afirma Odin.

— T-Tudo bem senhor, se você diz...  – Ele se ajoelha diante o deus, aceitando sua missão.

— Thanatos! Você agora é meu enviado na terra, você lavará a alma de todos, todos os males do mundo serão aprisionados! Você, Thanatos, pela graça de Odin e pelos olhos atentos de Nix é agora o escolhido para A missão. - Gungnir, a lança infalível, aparece nas mãos de Odin, depois de pronunciar seu discurso, o rei dos deuses trespassa a testa de Thanatos. O templário cai no chão, inerte.