A vingança é um prato que se come frio
O céu estava completamente encoberto, transformando o dia em noite, mas até agora não havia caído sequer uma gota de água. Pequenos pingos de chuva começam a cair. A cidade ainda estava em chamas, completamente destruída, a chuva lavaria as ruas e apagaria o fogo, mas não apagaria o massacre da memória de Thanatos, muito menos o que estava vendo agora.
— Thanatos... É você?! – Ela brada aos prantos.
O paladino fica sem reação, não fala e não faz nada. Os olhos de Maeros se enchem de lágrimas enquanto percorrem o rosto do paladino. Thanatos abre a mão quase que involuntariamente e a mercenária cai felinamente no chão. Ele abaixa os braços e encara a jovem moça sem dizer uma só palavra.
Maeros se aproxima e toca o paladino com as mãos. Ele estava maior, mais robusto, não apenas mudara a aparência, mas também o tamanho. Ela percorre a mão pelo corpo dele, com o braço esticado, como se quisesse confirmar que ele estava mesmo ali.
— Thanatos... O que Aconteceu?
Ele continua imóvel, sem dizer uma só palavra, a fitava o tempo todo. Parecia não escutar a mercenária, parecia estar perdido em seus próprios pensamentos.
— Por que isso?! Porque essa destruição sem sentido?! O que houve?! Onde você esteve?! - Enquanto perguntava, ela chegava cada vez mais perto dele.
— Eles não se lembravam... Eles diziam que não se lembravam de você. Érebo, Sísifo, Mayara, Arthemis, ninguém... Mas eu sabia! Eu não estava louca, você estava lá! Você me salvou dos lobos, do grifo e de tantas outras coisas. Eu te procurei... Eu procurei em todo lugar, andei por lugares que nunca imaginei existir, mas eu não te achava. Eu... Não te... Achava em lugar nenhum. - Maeros desaba em prantos. Abraça o paladino pela cintura, devido à diferença considerável de tamanho entre os dois. Thanatos não sabe o que fazer, não sabe se chora, se abraça... A sua dúvida não o deixa fazer nada, ele apenas escuta, imóvel.
— M-Mas... – Ela enxuga as lágrimas e olha para cima, para o rosto apreensivo de Thanatos.
— Eu nunca desisti... Nunca parei de te procurar. – A mercenária diz aos soluços de tanto chorar.
— S-sabia que ia te achar! Eu sempre tive esperança... Esperança de... Te achar... E poder... Dizer... O quanto eu te amo! – Ela olha com um modesto sorriso acanhado e tímido.
O paladino sente o coração acelerar, sua expressão de apreensão muda completamente para surpresa. Sua respiração fica ofegante. Aquela jovem conseguiu fazer o que nem o maior exército do mundo tinha conseguido; Parar o Deus da Morte.
A mente de Thanatos estava uma bagunça, não sabia mais o que pensar, via flashes de sua vida. O encontro com Maeros, as viagens que os três faziam juntos, o tempo em que ficaram separados, a saudade que sentiu, o reencontro, a noite mal dormida que passou com ela... A mesma noite em que o bafomé apareceu e que ela havia supostamente morrido.
— Thanatos, Por favor, Pare! – Ela olha no mais fundo dos olhos dele.
Ao contrário de Arthemis, que viu coisas horrendas no olhar do paladino, Maeros viu os mesmo olhos de seu antigo amigo e amor, os mesmo olhos puros de Thanatos.
— Pare com essa destruição sem sentido, Por favor. Eu sei que você não é assim! Sei que não quer machucar ninguém! O Thanatos que eu conheço, o Thanatos que eu amo... Ele não quer machucar ninguém. Ele vive para proteger. - Enquanto Maeros fala, ela também vê as lágrimas brotarem dos olhos dele. Sua expressão de surpresa muda novamente, agora para uma de tristeza profunda.
— Thanatos? O que foi? – Um fino fio de sangue escorre pelo canto da boca de Maeros.
Thanatos cai ajoelhado, ficando na mesma altura dela. Sua expressão era de completa desolação, rios de lágrimas escorriam pelos seus olhos.
Maeros inocentemente baixa seu olhar um pouco e vê claramente a imensa espada negra do paladino trespassando seu corpo. Ela olha para ele, muito surpresa, o fio de sangue vai aumentando progressivamente e ela cambaleia até se escorar no corpo dele.
— Por... Que?... – Ela diz enquanto sente o corpo fraquejar e o estômago queimar, como se a espada estivesse em brasa, mas não demonstrou em nenhum segundo sequer sinal de dor.
Sentindo as forças se esvaírem junto com o sangue que jorrava ao chão ela recosta a cabeça no ombro de seu amado. Várias coisas passam pela cabeça dela, assim como na do paladino, todos os momentos felizes dos dois. Pergunta para si mesmo por que é que tinha que acabar daquele jeito.
Thanatos leva a mão até a cabeça de Maeros e afaga uma única vez enquanto sussurra algo no ouvido da mercenária.
Maeros parecia já estar morta, seus olhos estavam sem brilho, mas assim que o paladino termina de sussurrar-lhe ao pé do ouvido ela parece abrir um tímido sorriso, como que com suas últimas forças.
A chuva castigava o lugar, o que antes era apenas alguns pingos havia se transformado em uma chuva torrencial.
O paladino aperta o corpo sem vida da mercenária contra o próprio. Um último e ao mesmo tempo primeiro abraço de amor entre ambos.
Ele se levanta e carrega Maeros consigo. Caminha com ela no meio da chuva. Encontraria um local decente para enterrá-la, um lugar que ninguém encontraria, onde ela poderia descansar em paz, longe de guerras, longe de matanças...
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— Senhor.
— Diga soldado. - Responde um homem com uma águia no ombro.
— Os batedores voltaram, segundo eles, o exército de Juperos está quase pronto e atacará pelo nordeste com toda força.
— Isso já era de se esperar.
— Mas senhor, os batedores também disseram que o deus da morte está vindo por noroeste. Estamos sendo encurralados, não podemos lidar com os dois de uma só vez, o que faremos? – O jovem cavaleiro parecia desesperado.
— Não se desespere homem! Tenho tudo planejado... – O homem se curva na cadeira e coloca os pés sobre a mesa.
"Vamos deixar os dois problemas se matarem..." – Pensou o homem.
— Tudo bem então senhor, confiamos no senhor, Sísifo! - O soldado fica em posição de sentido e se retira.
"Fiquem tranqüilos. Já disse que tudo está planejado..." - Pensa Sísifo.
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Aquela tempestade encobrira o mundo por inteiro, não se via o céu em lugar algum. Em meio aos raios e a chuva torrencial, caminha Thanatos, à passos lentos, saindo de Glast Heim em direção ao leste.
Ao leste das campinas verdejantes de Geffenia havia um reino desconhecido. Não havia nada lá alem de grama e mais grama quando Thanatos e seu grupo viajam pelo mundo. No entanto de uma hora para outra o lugar foi dominado por seres estranhos, armaduras que se moviam sozinhas eram vistas em todo lugar, em questão de dias uma enorme cidade de ferro foi construída.
O governo de Glast Heim entrou em pânico com os novos moradores e logo atacaram sem nem antes perguntar. A resposta do ataque foi rígida, de todo o exército mandado, apenas dois voltaram com vida.
Era para esse local que o Deus da Morte caminhava e não demorou a chegar no local. A chuva também castigava a cidade de ferro. As inúmeras criaturas metálicas corriam de um lado para outro, como se trabalhassem sem parar, no entanto, assim que notaram a presença do paladino, partiram para o ataque.
Thanatos parou em cima de um morro de onde tinha a visão completa do lugar, nem ao menos notou os ataques dos pequenos seres, virou-se para trás e voltou alguns metros. Em frente àquela grande construção metálica, o deus da morte desembainhou sua espada e a ergue acima da cabeça. Os pequenos soldados de ferro continuavam seus ataques, não importando se eram inúteis ou não, nem sequer conseguiam arranhar a armadura dele.
Ele olhou mais uma vez para uma das criaturinhas e a partiu no meio com sua espada. Ela caiu no chão, cortada em duas. Por dentro daquela pequena armadura não havia nada alem de mais ferro. Ela se contorcia, assim como os insetos que são pisoteados.
O paladino olhou mais uma vez para a cidade e pôde ver através das paredes. Máquinas, muitas e muitas máquinas. Assim como aquelas criaturinhas eram todas feitas de ferro puro, havia pequenas, grandes e até algumas com formatos de humanos. Ele levantou a espada mais uma vez.
— Não... Vivos. - A voz de Thanatos era gutural e assustadora, se assemelhava a do bafomé, porem mais fantasmagórica.
Ele finca a espada no chão com sua força sobre-humana. A terra treme e uma fenda no chão se abre em direção à cidade de ferro. A cidade inteira estremece, lentamente vai sendo engolida pela terra. As máquinas ficam alvoroçadas e confusas ao ver o abalo nas estruturas, mas não podem fazer nada alem disso. A estranha cidadela de ferro é totalmente engolida pela terra, em seu lugar permanece apenas uma grande depressão coberta de grama.
Thanatos guarda sua espada e continua sua viagem, seu destino era a última fortaleza humana, Prontera.
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— Sísifo, os exércitos estão a postos.
— Todos em seus lugares? Prontos para a guerra? - Pergunta Sísifo sentado em uma cadeira.
— Sim senhor. - Responde o soldado
— E os batedores?
— Não voltaram ainda senhor.
— Pode ir soldado, se junte ao exército.
O jovem cavaleiro abandona a sala, deixando o caçador sozinho com seus pensamentos.
"Você acha que vai ganhar de mim de novo é? Está muito enganado..." – Ele sorri maleficamente enquanto se recosta na cadeira.
A chuva continua castigando e um raio que ilumina os céus anuncia o começo da batalha. Thanatos aparece a algumas dezenas de metros da cidade. Mesmo os caçadores estando atentos a qualquer chegada, não notaram a aproximação do deus da morte no horizonte.
Todos ali sabiam do ocorrido em GH. A fumaça da cidade destruída podia ser vista de Prontera. Estavam apreensivos e ao mesmo tempo eufóricos. O exército da cidade era composto de aventureiros muito experientes em batalhas contra os mais variados monstros que vinham da Grande Floresta, mas nenhum deles estava preparado para o que ia acontecer.
— As armadilhas estão prontas? – Perguntou um cavaleiro veterano.
— Sim senhor. Todos os preparativos estão prontos, podemos começar a qualquer momento! – Respondeu um jovem caçador.
— Pois então comece.
Thanatos avança para cima da cidade. Aquele definitivamente não era mais o paladino sagrado que fora enviado para terra para purificá-la. Parecia mais um demônio que veio exterminar com tudo.
Estava anormalmente grande, passando dos dois metros de altura. Sua espada cresceu com ele, ficando ainda maior e mais amedrontadora. A armadura era um caso a parte, primeiramente era lustrosa, prateada e cheia de runas sagradas, cobria todo seu corpo e lhe dava uma aparência imponente e ao mesmo tempo sagrada. Entretanto, sua nova armadura era completamente diferente... De um branco fosco, cadavérico, suas ombreiras eram largas e terminavam em dois crânios, dando uma aparência assustadora e horripilante ao paladino e afirmando ainda mais que era realmente o Deus da Morte. Sua longa capa vermelha se estendia até o chão e cobria totalmente seu dorso. A espada gigantesca ficava em suas costas, por baixo da capa, mas qualquer um podia vê-la claramente acima da cabeça do paladino, tamanha à proporção que tinha tomado. Suas mãos e pernas eram recobertas pela armadura também, com o mesmo tom fosco, como se fossem feitos de ossos humanos. Seu ventre, braços e articulações eram desprovidos de armadura, apenas cobertos pela malha cinza que cobria todo o seu corpo até o pescoço.
Thanatos era outra pessoa, não era mais aquele templário que só queria salvar, nem ao menos era aquele paladino que hesitava em matar alguém. Thanatos morreu no dia em que matou o amor de sua vida. Aquele que estava ali era apenas um robô, que deveria cumprir sua missão a qualquer custo.
Ele não pára, continua avançando.
— Ativar Armadilhas! – Bradou o jovem caçador.
Conforme o deus da morte avançava, as armadilhas ativavam. Algumas prendiam em seus pés, mas logo eram destroçadas pela força sobre-humana do andar dele. Havia também diversas armadilhas explosivas, mas as mesmas não conseguiam nem sequer fazê-lo vacilar um instante. Armadilhas congelantes, extenuantes, luminosas... Nada o parava, nada conseguia fazê-lo diminuir o ritmo.
Flechas cortam o céu. Os arqueiros nem esperaram uma ordem, começaram a atirar assim que perceberam a inutilidade das armadilhas.
— Isso é inútil senhor, nossas flechas resvalam no corpo dele como se ele fosse feito de aço!
— Não se preocupe, ele não vai chegar aqui. Chame os magos enquanto ele ainda caminha, assim que chegar no fosso os magos poderão atacá-lo.
— Sim senhor! – O jovem corre em meio aos vários arqueiros que alvejavam sem parar o inimigo.
Thanatos pára de repente. Não consegue mais avançar. Havia um fosso enorme em sua frente, estava cercando toda a cidade. Era tão profundo que nem mesmo ele conseguia ver o seu fundo. Tinha quase uma centena de metros de largura, impossível de ser pulado aparentemente.
— ...Os magos trabalharam a noite toda na construção desse fosso, não tem como ele cruzá-lo, estamos a salvo aqui na cidade. – Disse o veterano que estava comandando as tropas.
Os arqueiros que estavam na beira da muralha fortificada da cidade dão lugar aos magos. Eram centenas de magos. Eles começam as suas conjurações arcanas e as diversas palavras mágicas se misturam, formando um imenso coral inteligível.
Thanatos percebe os inúmeros círculos de conjuração no chão, olha para o céu e vê raios, lanças de fogo, de gelo e até meteoros vindo para cima dele.
— Não há como escapar de tantas magias, mesmo ele sendo quem ele é... – Diz confiante o comandante.
O local onde o deus da morte estava é fulminado ao mesmo tempo por todas as magias. Foram alguns segundos de um clarão intenso e um enorme estrondo. Assim que o clarão cessou e todos voltaram o olhar para o lugar onde jazia o paladino, eles se deparam com um enorme buraco na terra.
— Ele foi... – Gagueja um mago.
— ...Pulverizado? – Completa um outro mago.
Enquanto eles imaginam sobre o que havia acontecido com o inimigo, escutam um familiar som de teleporte, porém muito mais alto que o comum. Instintivamente os combatentes se viram para o centro da cidade, de onde veio o barulho, e se deparam com o paladino, sem nenhum arranhão. Aparecera envolto em um cone de luz azul e estava parado bem no meio da praça principal.
— Teleporte? Achei que somente sacerdotes tinham teleporte! – Diz um mago embasbacado.
— Sim. Somente os sacerdotes possuem essa habilidade de se teleportar. No entanto, A habilidade de teleporte dos sacerdotes não pode ser direcionada, eles usam apenas para escapadas, já que você pode aparecer em qualquer local das redondezas. Se fosse um teleporte normal, as chances dele cair no buraco seria tão grandes que era melhor nem arriscar. Mas o teleporte dele foi diferente, ele veio para exatamente onde quis. – Explica o comandante.
Thanatos não perde mais tempo e ataca a todos. Assim como fez na capital, o paladino foi acertando todos com sua espada, rápido e certeiro, sem perder tempo algum. Em questão de segundos os corpos no chão já haviam superado o montante de magos na muralha.
— Temo que fazer algo! – Disse um mago.
Os demais magos apenas concordaram e começaram a conjurar suas magias mais uma vez, agora em cima da cidade.
— O que vocês estão fazendo?! Existem pessoas lá em baixo... Vocês vão maar à todos! – Bradou o veterano tentando impedir os magos.
— São necessários sacrifícios para vencer uma guerra. – Falou friamente um mago.
O comandante, revoltado com a atitude dos magos, desce e avança em direção ao paladino.
Thanatos percebe novamente os círculos de conjuração e as magias vindo para cima dele. Mais uma vez ele se teleporta, agora bem antes das magias caírem, revelando a todos como deveria ter feito há alguns momentos atrás. Os magos não têm tempo de cancelar suas magias e acabam acertando todos os cidadãos indefesos da cidade.
- O que fizemos? – Disse um jovem mago ao ver a população sendo fulminada por raios e lanças de fogo e gelo.
Não houve tempo para se arrependerem do que haviam feito. O paladino apareceu exatamente em frente a eles depois do característico cone de luz azulada do teleporte. Muitos quiseram fugir, mas as pernas não obedeciam, alguns se jogaram de cima da muralha. A simples visão do olhar do deus da morte era horripilante, ele fitava um a um com seus olhos amarelos, dourados como o sol. Os magos se sentiam indefesos e terrificados, como uma presa diante de um predador. Aqueles que se atreviam a olhar no fundo dos olhos dele soltavam um grito insano e se atiravam da muralha imediatamente.
Um a um os magos foram caindo, aqueles espertos e corajosos o suficiente que conseguiram correr, foram mortos por um único golpe de espada.
Prontera estava dizimada também, havia caído mais fácil que Glast Heim. Mas Thanatos sabia que ainda existia uma pessoa viva naquela cidade, conseguia escutar o bater de seu coração.
O paladino seguiu o som até a antiga arena, lugar onde lutou com Sísifo a primeira vez.
— Esse lugar trás muitas recordações não acha? - Sísifo estava sentado ao pé de uma árvore, parecia muito calmo.
Thanatos já estava dentro da arena. Não se moveu ao escutar a voz familiar.
— Foi aqui que o grande Thanatos, maior espadachim do mundo venceu Sísifo, o maior arqueiro do mundo.
- Eu sei que você vai me matar a qualquer momento, mas eu só peço que me deixe falar uma coisa. Somente uma coisinha.
Thanatos continua parado, imóvel, estava de costas para o caçador.
- Foi bem ali... – Aponta para o meio da arena – Você me matou bem ali, mas ali não morreu apenas Sísifo, morreu também meu orgulho. Eu tinha que me vingar... E me vingaria com estilo. – Sísifo se levanta e caminha pra perto de Thanatos.
— Queria que você sentisse a dor que eu sentia, a dor que sinto até hoje! Eu, que nunca fui derrotado, vencido por um reles templário.
O caçador caminha enquanto fala, toca as árvores, olha para as arquibancadas agora vazias e quase destruídas.
— ...Eu ia transformar sua vida num inferno. E adivinha? Consegui! – Ele para diante do paladino.
Thanatos mantém a cabeça abaixada, encobrindo seus olhos, mostrando apenas sua expressão apática.
— Primeiro eu queria que você se sentisse um lixo. Foi tão fácil... – Ele ri ironicamente – Maeros estava lá, deitada no chão, fui até você e disse que ela estava morta e que a culpa era sua. Eu sabia que você era ingênuo, mas não imaginei que sairia correndo daquele jeito sem nem ao menos conferir se estava mesmo. – O caçador gargalha.
Sísifo começa agora a circundar Thanatos, falando e observando cada detalhe dele.
— Mas ainda não estava bom... Não. Apenas te afastar é pouco, queria mais, Consegui fazer com que todos se esquecessem de você... Depois que todos se esqueceram de você, tiraria aquilo que mais amava... Adivinha quem? Quem?
O paladino não diz, não faz nada, continua imóvel. Do mesmo jeito que entrara na arena, não moveu um músculo, se não fosse a pesada respiração, podia-se dizer que estava morto.
— Sim... Isso mesmo que esta pensando... – Chega perto dele e sussurra – Maeros – Continua a falar normalmente – O meu plano era me casar com ela, ser muito feliz com ela, ou, Quem sabe até fazê-la sofrer bastante, ai sua dor seria ainda maior. – Sísifo ria insanamente, mas logo fica sério. – Mas ela ainda não tinha te esquecido! Tentei de tudo; Jóias, poder, armas, tudo... Mas ela não tirava você da cabeça. Nesse momento percebi que não conseguiria me casar com ela daquele jeito nunca e então desisti.
Thanatos faz um leve movimento de mão, quase imperceptível.
— Mas é claro que não desisti da minha vingança, se não poderia tê-la como esposa, ao menos... – Ele para bem na frente de Thanatos e silencia um pouco. – Sabia que Maeros era virgem? Ela me disse que estava se guardando pra você. Que lindo. Pena que não é mais né? Alguns goles de sedativo e.. - Antes que Sísifo pudesse terminar de falar, ele é acertado em cheio por um soco de Thanatos. Foi um golpe tão forte que ele foi parar na muralha da arena.
— Safado. Me pegou desprevenido! – Ocaçador geme.
O paladino caminha lentamente até Sísifo.
— Acho que você não gostou de ouvir aquilo né? Mas não fica assim não, te garanto que ela gostou. – Ele abre um enorme sorriso.
Thanatos chega perto do caçador ferido e pára ao ficar frente a ele.
— Você tem que concordar comigo. Minha vingança foi perfeita! Vai dizer que você não esta vivendo um inferno? – Ele brada nervosamente.
O paladino pisa em cima das duas pernas de Sísifo, esmagando-as com seu peso. O caçador urra de dor, mas logo começa a gargalhar ao ver os olhos marejados do apático deus da morte.
— Eu sabia! Eu sabia! - O caçador ri estéricamente
Ele puxa o caçador e esmaga os braços do mesmo com os pés também. Sísifo novamente grita de dor, mas logo volta a gargalhar insanamente.
— Não importa o quanto me torture! Minha dor não é nada comparada com a sua! Minha dor não é nada comparada à minha alegria de te ver sofrer! Mesmo me mutilando, você ainda chora por que está ferindo. Você chora por aquele que transformou sua vida num inferno! Eu venci, Eu venci! Eu venci! Não importa o que faça agora, Eu venci! - Sísifo gargalhava insanamente, seus olhos lacrimejavam de tanto rir.
Thanatos vira-se e deixa o caçador mutilado sozinho na arena. Mesmo saindo da cidade, mesmo longe, ele conseguia escutar as gargalhadas insanas. Aquilo nunca mais sairia da cabeça dele, estava cravado no mais profundo do seu coração.
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O paladino não sabia mais para onde ir, só sentia o pulsar de mais quatro corações. Ele seguiu rumo ao norte, ao encontro das últimas quatro pessoas do mundo. Por toda sua caminhada rumo ao norte ele não escutava mais ninguém a não ser aqueles, sua missão estava quase completa.
Ele cruza a cadeia de montanhas ao norte de Prontera até chegar em um planalto. Essa região era muito pouco explorada por sua aridez. Poucos monstros eram encontrados ali, também havia pouca água e poucas plantas, tornando-o um lugar pouco atrativo a qualquer um. Era ali, em um largo pedaço de terra árida cortada por um pequeno riacho, que se encontravam as pessoas que separavam Thanatos do cumprimento da sua missão.
Eram apenas quatro pessoas, quatro monges para ser mais exato. Todos eles trajando suas vestes simples. Três deles eram homens, de físico forte e roupa aberta na frente, deixando a mostra os músculos. Usavam um chapéu feito de palha trançada, de formato triangular e grandes abas, menos a quarta. Havia uma mulher entre eles, de longos cabelos morenos e lisos, rosto angelical e olhar sereno. Na cabeça, ao invés do chapéu típico que seus parceiros usavam, ostentava uma reluzente coroa da abelha rainha. Era Mayara, antiga companheira de grupo do paladino.
— Chegamos um pouco tarde. Eu admito... – Disse o primeiro monge da esquerda.
— Mas chegamos para dar um fim a essa loucura... – Continuou o monge da ponta direita.
— Alguém que causa tamanha destruição não pode sair impunemente... – Fala o segundo monge da esquerda.
— Viemos até aqui matá-lo, não há outra saída. – Completou Mayara, com seu jeito calmo e sereno de falar.
Thanatos não diz nem faz nada, apenas espera pacientemente terminarem o discurso.
— Não importa quem ou o quê você é, mas será punido pelos seus crimes... – O monge da direita fala enquanto entra em posição de lótus.
— Suas ações demonstram crueldade e injustiça, alguém com tamanha força deve ser bom e justo... – O monge da esquerda também entra em posição de lótus.
— Você é o inimigo supremo, o mais forte de todos, deverá ser derrotado também pelos mais fortes de todos... – O terceiro monge acompanha a coreografia.
— Nunca nada nem ninguém pôde suportar um Punho de Asura, mas você é diferente, mas mesmo sendo tão forte, não poderá com quatro Punhos de Asura... – Mayara é a última a ficar na posição.
O paladino não se move, mas uma aura dourada começa a envolver seu corpo e logo ele está completamente envolto nela, uma parca aura dourada brilha ao seu redor.
— Zen! – Os quatro gritam em sincronia.
Imediatamente aparecem cinco esferas azuis orbitando o corpo de cada um.
— Fúria Interior! – Novamente eles bradam em conjunto.
Os monges estavam totalmente sincronizados. Todos eles socaram o chão e as esferas azuis penetraram em sua pele. Um grande estrondo acontece assim que eles tocam a mão no chão, a terra treme e pequenos raios de energia eletrostática faíscam no corpo de cada um. Eles agora possuíam um olhar furioso e enérgico.
— Zen! – Novamente, aparecem cinco esferas azuis em torno dos quatro.
— Você será o único a receber quatro Punhos de Asura ao mesmo tempo! – Os guerreiros estavam tão sincronizados que falaram a mesma coisa.
Falavam igual, pensavam igual e agiam igual. Estavam conectados entre si, de alguma forma. O paladino continuava imóvel.
Lentamente eles caminharam até o Deus da Morte. Fecharam um círculo envolta dele. Com a mesma sincronia de sempre, os quatro levantaram o punho direito acima da cabeça. A energia eletrostática que percorria o corpo de cada um foi se acumulando em seus punhos direitos.
O tempo parecia correr devagar. O vento cessou, as águas do riacho pareciam imóveis. A emergia penetra pela pele de cada um e ambos esbravejam em alto e bom som.
— Punho Supremo de Azura! - Os punhos erguidos liberam uma estranha fumaça negra que logo toma a forma de uma estranha palavra escrita em letras indecifráveis. Todos golpeiam Thanatos ao mesmo tempo.
O estrondo é enorme, podia ser ouvido a quilômetros dali. Uma nuvem de poeira encobre o local, impossibilitando de que se visse alguma coisa. O estrago dos golpes somados foi tanto que havia fissuras em todo o local num raio de cem metros. Pouco a pouco as águas do pequeno riacho vão se infiltrando nessas fendas e enchendo-as de água cristalina enquanto a poeira abaixava lentamente.
Não foi necessário esperar a poeira abaixar para saber o resultado da luta. Os quatro monges haviam voado para longe dali como eles mesmo tivessem recebido o golpe. Cada um voou cerca de cinqüenta metros antes de caírem inertes no chão. Derrotados, como se fossem vítimas de seu próprio golpe.
Thanatos aparece saindo da nuvem de poeira e caminhando rumo ao norte. A fraca aura dourada vai esvaecendo até sumir completamente. O deus da morte parecia não ter recebido mais do que alguns arranhões e hematomas no corpo, todos se curando em uma velocidade surpreendente.
Ele pára no alto de um pequeno morro de terra batida. Olha para os lados, como se procurasse algo e então olha para um local a sua frente. Não havia nada lá, apenas o mesmo chão árido, mas ele parecia ver algo, parecia sentir algo e pela primeira vez o rosto apático do deus da morte muda para um rosto de ódio puro.
Não era possível ver ao primeiro olhar o que exatamente Thanatos fitava com tanto ódio, mas pouco a pouco um estranho vulto foi tomando forma. Era enorme e de um tom marrom terroso, mais de quatro metros de altura. Possuía grandes braços fortes e musculosos terminando em mãos grandes e robustas. Suas pernas eram ligeiramente pequenas para o seu tamanho, mas ele usava os braços como forma de apoio também. Em seus ombros havia diversos grandes olhos fendados. Suas costas eram cobertas pela mais dura pele cheia de espinhos. Sua cara era de um demônio. Tinha dentes afiados, rugia como um animal e não parecia ser de todo esperto.
Não era uma visão bonita de se ver, era um monstro realmente amedrontador. Mas Thanatos parecia realmente furioso em vê-lo. Sacou sua espada e partiu para cima da besta com toda sua fúria, como nunca havia feito antes.
— Thanatos... É você?! – Ela brada aos prantos.
O paladino fica sem reação, não fala e não faz nada. Os olhos de Maeros se enchem de lágrimas enquanto percorrem o rosto do paladino. Thanatos abre a mão quase que involuntariamente e a mercenária cai felinamente no chão. Ele abaixa os braços e encara a jovem moça sem dizer uma só palavra.
Maeros se aproxima e toca o paladino com as mãos. Ele estava maior, mais robusto, não apenas mudara a aparência, mas também o tamanho. Ela percorre a mão pelo corpo dele, com o braço esticado, como se quisesse confirmar que ele estava mesmo ali.
— Thanatos... O que Aconteceu?
Ele continua imóvel, sem dizer uma só palavra, a fitava o tempo todo. Parecia não escutar a mercenária, parecia estar perdido em seus próprios pensamentos.
— Por que isso?! Porque essa destruição sem sentido?! O que houve?! Onde você esteve?! - Enquanto perguntava, ela chegava cada vez mais perto dele.
— Eles não se lembravam... Eles diziam que não se lembravam de você. Érebo, Sísifo, Mayara, Arthemis, ninguém... Mas eu sabia! Eu não estava louca, você estava lá! Você me salvou dos lobos, do grifo e de tantas outras coisas. Eu te procurei... Eu procurei em todo lugar, andei por lugares que nunca imaginei existir, mas eu não te achava. Eu... Não te... Achava em lugar nenhum. - Maeros desaba em prantos. Abraça o paladino pela cintura, devido à diferença considerável de tamanho entre os dois. Thanatos não sabe o que fazer, não sabe se chora, se abraça... A sua dúvida não o deixa fazer nada, ele apenas escuta, imóvel.
— M-Mas... – Ela enxuga as lágrimas e olha para cima, para o rosto apreensivo de Thanatos.
— Eu nunca desisti... Nunca parei de te procurar. – A mercenária diz aos soluços de tanto chorar.
— S-sabia que ia te achar! Eu sempre tive esperança... Esperança de... Te achar... E poder... Dizer... O quanto eu te amo! – Ela olha com um modesto sorriso acanhado e tímido.
O paladino sente o coração acelerar, sua expressão de apreensão muda completamente para surpresa. Sua respiração fica ofegante. Aquela jovem conseguiu fazer o que nem o maior exército do mundo tinha conseguido; Parar o Deus da Morte.
A mente de Thanatos estava uma bagunça, não sabia mais o que pensar, via flashes de sua vida. O encontro com Maeros, as viagens que os três faziam juntos, o tempo em que ficaram separados, a saudade que sentiu, o reencontro, a noite mal dormida que passou com ela... A mesma noite em que o bafomé apareceu e que ela havia supostamente morrido.
— Thanatos, Por favor, Pare! – Ela olha no mais fundo dos olhos dele.
Ao contrário de Arthemis, que viu coisas horrendas no olhar do paladino, Maeros viu os mesmo olhos de seu antigo amigo e amor, os mesmo olhos puros de Thanatos.
— Pare com essa destruição sem sentido, Por favor. Eu sei que você não é assim! Sei que não quer machucar ninguém! O Thanatos que eu conheço, o Thanatos que eu amo... Ele não quer machucar ninguém. Ele vive para proteger. - Enquanto Maeros fala, ela também vê as lágrimas brotarem dos olhos dele. Sua expressão de surpresa muda novamente, agora para uma de tristeza profunda.
— Thanatos? O que foi? – Um fino fio de sangue escorre pelo canto da boca de Maeros.
Thanatos cai ajoelhado, ficando na mesma altura dela. Sua expressão era de completa desolação, rios de lágrimas escorriam pelos seus olhos.
Maeros inocentemente baixa seu olhar um pouco e vê claramente a imensa espada negra do paladino trespassando seu corpo. Ela olha para ele, muito surpresa, o fio de sangue vai aumentando progressivamente e ela cambaleia até se escorar no corpo dele.
— Por... Que?... – Ela diz enquanto sente o corpo fraquejar e o estômago queimar, como se a espada estivesse em brasa, mas não demonstrou em nenhum segundo sequer sinal de dor.
Sentindo as forças se esvaírem junto com o sangue que jorrava ao chão ela recosta a cabeça no ombro de seu amado. Várias coisas passam pela cabeça dela, assim como na do paladino, todos os momentos felizes dos dois. Pergunta para si mesmo por que é que tinha que acabar daquele jeito.
Thanatos leva a mão até a cabeça de Maeros e afaga uma única vez enquanto sussurra algo no ouvido da mercenária.
Maeros parecia já estar morta, seus olhos estavam sem brilho, mas assim que o paladino termina de sussurrar-lhe ao pé do ouvido ela parece abrir um tímido sorriso, como que com suas últimas forças.
A chuva castigava o lugar, o que antes era apenas alguns pingos havia se transformado em uma chuva torrencial.
O paladino aperta o corpo sem vida da mercenária contra o próprio. Um último e ao mesmo tempo primeiro abraço de amor entre ambos.
Ele se levanta e carrega Maeros consigo. Caminha com ela no meio da chuva. Encontraria um local decente para enterrá-la, um lugar que ninguém encontraria, onde ela poderia descansar em paz, longe de guerras, longe de matanças...
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— Senhor.
— Diga soldado. - Responde um homem com uma águia no ombro.
— Os batedores voltaram, segundo eles, o exército de Juperos está quase pronto e atacará pelo nordeste com toda força.
— Isso já era de se esperar.
— Mas senhor, os batedores também disseram que o deus da morte está vindo por noroeste. Estamos sendo encurralados, não podemos lidar com os dois de uma só vez, o que faremos? – O jovem cavaleiro parecia desesperado.
— Não se desespere homem! Tenho tudo planejado... – O homem se curva na cadeira e coloca os pés sobre a mesa.
"Vamos deixar os dois problemas se matarem..." – Pensou o homem.
— Tudo bem então senhor, confiamos no senhor, Sísifo! - O soldado fica em posição de sentido e se retira.
"Fiquem tranqüilos. Já disse que tudo está planejado..." - Pensa Sísifo.
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Aquela tempestade encobrira o mundo por inteiro, não se via o céu em lugar algum. Em meio aos raios e a chuva torrencial, caminha Thanatos, à passos lentos, saindo de Glast Heim em direção ao leste.
Ao leste das campinas verdejantes de Geffenia havia um reino desconhecido. Não havia nada lá alem de grama e mais grama quando Thanatos e seu grupo viajam pelo mundo. No entanto de uma hora para outra o lugar foi dominado por seres estranhos, armaduras que se moviam sozinhas eram vistas em todo lugar, em questão de dias uma enorme cidade de ferro foi construída.
O governo de Glast Heim entrou em pânico com os novos moradores e logo atacaram sem nem antes perguntar. A resposta do ataque foi rígida, de todo o exército mandado, apenas dois voltaram com vida.
Era para esse local que o Deus da Morte caminhava e não demorou a chegar no local. A chuva também castigava a cidade de ferro. As inúmeras criaturas metálicas corriam de um lado para outro, como se trabalhassem sem parar, no entanto, assim que notaram a presença do paladino, partiram para o ataque.
Thanatos parou em cima de um morro de onde tinha a visão completa do lugar, nem ao menos notou os ataques dos pequenos seres, virou-se para trás e voltou alguns metros. Em frente àquela grande construção metálica, o deus da morte desembainhou sua espada e a ergue acima da cabeça. Os pequenos soldados de ferro continuavam seus ataques, não importando se eram inúteis ou não, nem sequer conseguiam arranhar a armadura dele.
Ele olhou mais uma vez para uma das criaturinhas e a partiu no meio com sua espada. Ela caiu no chão, cortada em duas. Por dentro daquela pequena armadura não havia nada alem de mais ferro. Ela se contorcia, assim como os insetos que são pisoteados.
O paladino olhou mais uma vez para a cidade e pôde ver através das paredes. Máquinas, muitas e muitas máquinas. Assim como aquelas criaturinhas eram todas feitas de ferro puro, havia pequenas, grandes e até algumas com formatos de humanos. Ele levantou a espada mais uma vez.
— Não... Vivos. - A voz de Thanatos era gutural e assustadora, se assemelhava a do bafomé, porem mais fantasmagórica.
Ele finca a espada no chão com sua força sobre-humana. A terra treme e uma fenda no chão se abre em direção à cidade de ferro. A cidade inteira estremece, lentamente vai sendo engolida pela terra. As máquinas ficam alvoroçadas e confusas ao ver o abalo nas estruturas, mas não podem fazer nada alem disso. A estranha cidadela de ferro é totalmente engolida pela terra, em seu lugar permanece apenas uma grande depressão coberta de grama.
Thanatos guarda sua espada e continua sua viagem, seu destino era a última fortaleza humana, Prontera.
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— Sísifo, os exércitos estão a postos.
— Todos em seus lugares? Prontos para a guerra? - Pergunta Sísifo sentado em uma cadeira.
— Sim senhor. - Responde o soldado
— E os batedores?
— Não voltaram ainda senhor.
— Pode ir soldado, se junte ao exército.
O jovem cavaleiro abandona a sala, deixando o caçador sozinho com seus pensamentos.
"Você acha que vai ganhar de mim de novo é? Está muito enganado..." – Ele sorri maleficamente enquanto se recosta na cadeira.
A chuva continua castigando e um raio que ilumina os céus anuncia o começo da batalha. Thanatos aparece a algumas dezenas de metros da cidade. Mesmo os caçadores estando atentos a qualquer chegada, não notaram a aproximação do deus da morte no horizonte.
Todos ali sabiam do ocorrido em GH. A fumaça da cidade destruída podia ser vista de Prontera. Estavam apreensivos e ao mesmo tempo eufóricos. O exército da cidade era composto de aventureiros muito experientes em batalhas contra os mais variados monstros que vinham da Grande Floresta, mas nenhum deles estava preparado para o que ia acontecer.
— As armadilhas estão prontas? – Perguntou um cavaleiro veterano.
— Sim senhor. Todos os preparativos estão prontos, podemos começar a qualquer momento! – Respondeu um jovem caçador.
— Pois então comece.
Thanatos avança para cima da cidade. Aquele definitivamente não era mais o paladino sagrado que fora enviado para terra para purificá-la. Parecia mais um demônio que veio exterminar com tudo.
Estava anormalmente grande, passando dos dois metros de altura. Sua espada cresceu com ele, ficando ainda maior e mais amedrontadora. A armadura era um caso a parte, primeiramente era lustrosa, prateada e cheia de runas sagradas, cobria todo seu corpo e lhe dava uma aparência imponente e ao mesmo tempo sagrada. Entretanto, sua nova armadura era completamente diferente... De um branco fosco, cadavérico, suas ombreiras eram largas e terminavam em dois crânios, dando uma aparência assustadora e horripilante ao paladino e afirmando ainda mais que era realmente o Deus da Morte. Sua longa capa vermelha se estendia até o chão e cobria totalmente seu dorso. A espada gigantesca ficava em suas costas, por baixo da capa, mas qualquer um podia vê-la claramente acima da cabeça do paladino, tamanha à proporção que tinha tomado. Suas mãos e pernas eram recobertas pela armadura também, com o mesmo tom fosco, como se fossem feitos de ossos humanos. Seu ventre, braços e articulações eram desprovidos de armadura, apenas cobertos pela malha cinza que cobria todo o seu corpo até o pescoço.
Thanatos era outra pessoa, não era mais aquele templário que só queria salvar, nem ao menos era aquele paladino que hesitava em matar alguém. Thanatos morreu no dia em que matou o amor de sua vida. Aquele que estava ali era apenas um robô, que deveria cumprir sua missão a qualquer custo.
Ele não pára, continua avançando.
— Ativar Armadilhas! – Bradou o jovem caçador.
Conforme o deus da morte avançava, as armadilhas ativavam. Algumas prendiam em seus pés, mas logo eram destroçadas pela força sobre-humana do andar dele. Havia também diversas armadilhas explosivas, mas as mesmas não conseguiam nem sequer fazê-lo vacilar um instante. Armadilhas congelantes, extenuantes, luminosas... Nada o parava, nada conseguia fazê-lo diminuir o ritmo.
Flechas cortam o céu. Os arqueiros nem esperaram uma ordem, começaram a atirar assim que perceberam a inutilidade das armadilhas.
— Isso é inútil senhor, nossas flechas resvalam no corpo dele como se ele fosse feito de aço!
— Não se preocupe, ele não vai chegar aqui. Chame os magos enquanto ele ainda caminha, assim que chegar no fosso os magos poderão atacá-lo.
— Sim senhor! – O jovem corre em meio aos vários arqueiros que alvejavam sem parar o inimigo.
Thanatos pára de repente. Não consegue mais avançar. Havia um fosso enorme em sua frente, estava cercando toda a cidade. Era tão profundo que nem mesmo ele conseguia ver o seu fundo. Tinha quase uma centena de metros de largura, impossível de ser pulado aparentemente.
— ...Os magos trabalharam a noite toda na construção desse fosso, não tem como ele cruzá-lo, estamos a salvo aqui na cidade. – Disse o veterano que estava comandando as tropas.
Os arqueiros que estavam na beira da muralha fortificada da cidade dão lugar aos magos. Eram centenas de magos. Eles começam as suas conjurações arcanas e as diversas palavras mágicas se misturam, formando um imenso coral inteligível.
Thanatos percebe os inúmeros círculos de conjuração no chão, olha para o céu e vê raios, lanças de fogo, de gelo e até meteoros vindo para cima dele.
— Não há como escapar de tantas magias, mesmo ele sendo quem ele é... – Diz confiante o comandante.
O local onde o deus da morte estava é fulminado ao mesmo tempo por todas as magias. Foram alguns segundos de um clarão intenso e um enorme estrondo. Assim que o clarão cessou e todos voltaram o olhar para o lugar onde jazia o paladino, eles se deparam com um enorme buraco na terra.
— Ele foi... – Gagueja um mago.
— ...Pulverizado? – Completa um outro mago.
Enquanto eles imaginam sobre o que havia acontecido com o inimigo, escutam um familiar som de teleporte, porém muito mais alto que o comum. Instintivamente os combatentes se viram para o centro da cidade, de onde veio o barulho, e se deparam com o paladino, sem nenhum arranhão. Aparecera envolto em um cone de luz azul e estava parado bem no meio da praça principal.
— Teleporte? Achei que somente sacerdotes tinham teleporte! – Diz um mago embasbacado.
— Sim. Somente os sacerdotes possuem essa habilidade de se teleportar. No entanto, A habilidade de teleporte dos sacerdotes não pode ser direcionada, eles usam apenas para escapadas, já que você pode aparecer em qualquer local das redondezas. Se fosse um teleporte normal, as chances dele cair no buraco seria tão grandes que era melhor nem arriscar. Mas o teleporte dele foi diferente, ele veio para exatamente onde quis. – Explica o comandante.
Thanatos não perde mais tempo e ataca a todos. Assim como fez na capital, o paladino foi acertando todos com sua espada, rápido e certeiro, sem perder tempo algum. Em questão de segundos os corpos no chão já haviam superado o montante de magos na muralha.
— Temo que fazer algo! – Disse um mago.
Os demais magos apenas concordaram e começaram a conjurar suas magias mais uma vez, agora em cima da cidade.
— O que vocês estão fazendo?! Existem pessoas lá em baixo... Vocês vão maar à todos! – Bradou o veterano tentando impedir os magos.
— São necessários sacrifícios para vencer uma guerra. – Falou friamente um mago.
O comandante, revoltado com a atitude dos magos, desce e avança em direção ao paladino.
Thanatos percebe novamente os círculos de conjuração e as magias vindo para cima dele. Mais uma vez ele se teleporta, agora bem antes das magias caírem, revelando a todos como deveria ter feito há alguns momentos atrás. Os magos não têm tempo de cancelar suas magias e acabam acertando todos os cidadãos indefesos da cidade.
- O que fizemos? – Disse um jovem mago ao ver a população sendo fulminada por raios e lanças de fogo e gelo.
Não houve tempo para se arrependerem do que haviam feito. O paladino apareceu exatamente em frente a eles depois do característico cone de luz azulada do teleporte. Muitos quiseram fugir, mas as pernas não obedeciam, alguns se jogaram de cima da muralha. A simples visão do olhar do deus da morte era horripilante, ele fitava um a um com seus olhos amarelos, dourados como o sol. Os magos se sentiam indefesos e terrificados, como uma presa diante de um predador. Aqueles que se atreviam a olhar no fundo dos olhos dele soltavam um grito insano e se atiravam da muralha imediatamente.
Um a um os magos foram caindo, aqueles espertos e corajosos o suficiente que conseguiram correr, foram mortos por um único golpe de espada.
Prontera estava dizimada também, havia caído mais fácil que Glast Heim. Mas Thanatos sabia que ainda existia uma pessoa viva naquela cidade, conseguia escutar o bater de seu coração.
O paladino seguiu o som até a antiga arena, lugar onde lutou com Sísifo a primeira vez.
— Esse lugar trás muitas recordações não acha? - Sísifo estava sentado ao pé de uma árvore, parecia muito calmo.
Thanatos já estava dentro da arena. Não se moveu ao escutar a voz familiar.
— Foi aqui que o grande Thanatos, maior espadachim do mundo venceu Sísifo, o maior arqueiro do mundo.
- Eu sei que você vai me matar a qualquer momento, mas eu só peço que me deixe falar uma coisa. Somente uma coisinha.
Thanatos continua parado, imóvel, estava de costas para o caçador.
- Foi bem ali... – Aponta para o meio da arena – Você me matou bem ali, mas ali não morreu apenas Sísifo, morreu também meu orgulho. Eu tinha que me vingar... E me vingaria com estilo. – Sísifo se levanta e caminha pra perto de Thanatos.
— Queria que você sentisse a dor que eu sentia, a dor que sinto até hoje! Eu, que nunca fui derrotado, vencido por um reles templário.
O caçador caminha enquanto fala, toca as árvores, olha para as arquibancadas agora vazias e quase destruídas.
— ...Eu ia transformar sua vida num inferno. E adivinha? Consegui! – Ele para diante do paladino.
Thanatos mantém a cabeça abaixada, encobrindo seus olhos, mostrando apenas sua expressão apática.
— Primeiro eu queria que você se sentisse um lixo. Foi tão fácil... – Ele ri ironicamente – Maeros estava lá, deitada no chão, fui até você e disse que ela estava morta e que a culpa era sua. Eu sabia que você era ingênuo, mas não imaginei que sairia correndo daquele jeito sem nem ao menos conferir se estava mesmo. – O caçador gargalha.
Sísifo começa agora a circundar Thanatos, falando e observando cada detalhe dele.
— Mas ainda não estava bom... Não. Apenas te afastar é pouco, queria mais, Consegui fazer com que todos se esquecessem de você... Depois que todos se esqueceram de você, tiraria aquilo que mais amava... Adivinha quem? Quem?
O paladino não diz, não faz nada, continua imóvel. Do mesmo jeito que entrara na arena, não moveu um músculo, se não fosse a pesada respiração, podia-se dizer que estava morto.
— Sim... Isso mesmo que esta pensando... – Chega perto dele e sussurra – Maeros – Continua a falar normalmente – O meu plano era me casar com ela, ser muito feliz com ela, ou, Quem sabe até fazê-la sofrer bastante, ai sua dor seria ainda maior. – Sísifo ria insanamente, mas logo fica sério. – Mas ela ainda não tinha te esquecido! Tentei de tudo; Jóias, poder, armas, tudo... Mas ela não tirava você da cabeça. Nesse momento percebi que não conseguiria me casar com ela daquele jeito nunca e então desisti.
Thanatos faz um leve movimento de mão, quase imperceptível.
— Mas é claro que não desisti da minha vingança, se não poderia tê-la como esposa, ao menos... – Ele para bem na frente de Thanatos e silencia um pouco. – Sabia que Maeros era virgem? Ela me disse que estava se guardando pra você. Que lindo. Pena que não é mais né? Alguns goles de sedativo e.. - Antes que Sísifo pudesse terminar de falar, ele é acertado em cheio por um soco de Thanatos. Foi um golpe tão forte que ele foi parar na muralha da arena.
— Safado. Me pegou desprevenido! – Ocaçador geme.
O paladino caminha lentamente até Sísifo.
— Acho que você não gostou de ouvir aquilo né? Mas não fica assim não, te garanto que ela gostou. – Ele abre um enorme sorriso.
Thanatos chega perto do caçador ferido e pára ao ficar frente a ele.
— Você tem que concordar comigo. Minha vingança foi perfeita! Vai dizer que você não esta vivendo um inferno? – Ele brada nervosamente.
O paladino pisa em cima das duas pernas de Sísifo, esmagando-as com seu peso. O caçador urra de dor, mas logo começa a gargalhar ao ver os olhos marejados do apático deus da morte.
— Eu sabia! Eu sabia! - O caçador ri estéricamente
Ele puxa o caçador e esmaga os braços do mesmo com os pés também. Sísifo novamente grita de dor, mas logo volta a gargalhar insanamente.
— Não importa o quanto me torture! Minha dor não é nada comparada com a sua! Minha dor não é nada comparada à minha alegria de te ver sofrer! Mesmo me mutilando, você ainda chora por que está ferindo. Você chora por aquele que transformou sua vida num inferno! Eu venci, Eu venci! Eu venci! Não importa o que faça agora, Eu venci! - Sísifo gargalhava insanamente, seus olhos lacrimejavam de tanto rir.
Thanatos vira-se e deixa o caçador mutilado sozinho na arena. Mesmo saindo da cidade, mesmo longe, ele conseguia escutar as gargalhadas insanas. Aquilo nunca mais sairia da cabeça dele, estava cravado no mais profundo do seu coração.
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O paladino não sabia mais para onde ir, só sentia o pulsar de mais quatro corações. Ele seguiu rumo ao norte, ao encontro das últimas quatro pessoas do mundo. Por toda sua caminhada rumo ao norte ele não escutava mais ninguém a não ser aqueles, sua missão estava quase completa.
Ele cruza a cadeia de montanhas ao norte de Prontera até chegar em um planalto. Essa região era muito pouco explorada por sua aridez. Poucos monstros eram encontrados ali, também havia pouca água e poucas plantas, tornando-o um lugar pouco atrativo a qualquer um. Era ali, em um largo pedaço de terra árida cortada por um pequeno riacho, que se encontravam as pessoas que separavam Thanatos do cumprimento da sua missão.
Eram apenas quatro pessoas, quatro monges para ser mais exato. Todos eles trajando suas vestes simples. Três deles eram homens, de físico forte e roupa aberta na frente, deixando a mostra os músculos. Usavam um chapéu feito de palha trançada, de formato triangular e grandes abas, menos a quarta. Havia uma mulher entre eles, de longos cabelos morenos e lisos, rosto angelical e olhar sereno. Na cabeça, ao invés do chapéu típico que seus parceiros usavam, ostentava uma reluzente coroa da abelha rainha. Era Mayara, antiga companheira de grupo do paladino.
— Chegamos um pouco tarde. Eu admito... – Disse o primeiro monge da esquerda.
— Mas chegamos para dar um fim a essa loucura... – Continuou o monge da ponta direita.
— Alguém que causa tamanha destruição não pode sair impunemente... – Fala o segundo monge da esquerda.
— Viemos até aqui matá-lo, não há outra saída. – Completou Mayara, com seu jeito calmo e sereno de falar.
Thanatos não diz nem faz nada, apenas espera pacientemente terminarem o discurso.
— Não importa quem ou o quê você é, mas será punido pelos seus crimes... – O monge da direita fala enquanto entra em posição de lótus.
— Suas ações demonstram crueldade e injustiça, alguém com tamanha força deve ser bom e justo... – O monge da esquerda também entra em posição de lótus.
— Você é o inimigo supremo, o mais forte de todos, deverá ser derrotado também pelos mais fortes de todos... – O terceiro monge acompanha a coreografia.
— Nunca nada nem ninguém pôde suportar um Punho de Asura, mas você é diferente, mas mesmo sendo tão forte, não poderá com quatro Punhos de Asura... – Mayara é a última a ficar na posição.
O paladino não se move, mas uma aura dourada começa a envolver seu corpo e logo ele está completamente envolto nela, uma parca aura dourada brilha ao seu redor.
— Zen! – Os quatro gritam em sincronia.
Imediatamente aparecem cinco esferas azuis orbitando o corpo de cada um.
— Fúria Interior! – Novamente eles bradam em conjunto.
Os monges estavam totalmente sincronizados. Todos eles socaram o chão e as esferas azuis penetraram em sua pele. Um grande estrondo acontece assim que eles tocam a mão no chão, a terra treme e pequenos raios de energia eletrostática faíscam no corpo de cada um. Eles agora possuíam um olhar furioso e enérgico.
— Zen! – Novamente, aparecem cinco esferas azuis em torno dos quatro.
— Você será o único a receber quatro Punhos de Asura ao mesmo tempo! – Os guerreiros estavam tão sincronizados que falaram a mesma coisa.
Falavam igual, pensavam igual e agiam igual. Estavam conectados entre si, de alguma forma. O paladino continuava imóvel.
Lentamente eles caminharam até o Deus da Morte. Fecharam um círculo envolta dele. Com a mesma sincronia de sempre, os quatro levantaram o punho direito acima da cabeça. A energia eletrostática que percorria o corpo de cada um foi se acumulando em seus punhos direitos.
O tempo parecia correr devagar. O vento cessou, as águas do riacho pareciam imóveis. A emergia penetra pela pele de cada um e ambos esbravejam em alto e bom som.
— Punho Supremo de Azura! - Os punhos erguidos liberam uma estranha fumaça negra que logo toma a forma de uma estranha palavra escrita em letras indecifráveis. Todos golpeiam Thanatos ao mesmo tempo.
O estrondo é enorme, podia ser ouvido a quilômetros dali. Uma nuvem de poeira encobre o local, impossibilitando de que se visse alguma coisa. O estrago dos golpes somados foi tanto que havia fissuras em todo o local num raio de cem metros. Pouco a pouco as águas do pequeno riacho vão se infiltrando nessas fendas e enchendo-as de água cristalina enquanto a poeira abaixava lentamente.
Não foi necessário esperar a poeira abaixar para saber o resultado da luta. Os quatro monges haviam voado para longe dali como eles mesmo tivessem recebido o golpe. Cada um voou cerca de cinqüenta metros antes de caírem inertes no chão. Derrotados, como se fossem vítimas de seu próprio golpe.
Thanatos aparece saindo da nuvem de poeira e caminhando rumo ao norte. A fraca aura dourada vai esvaecendo até sumir completamente. O deus da morte parecia não ter recebido mais do que alguns arranhões e hematomas no corpo, todos se curando em uma velocidade surpreendente.
Ele pára no alto de um pequeno morro de terra batida. Olha para os lados, como se procurasse algo e então olha para um local a sua frente. Não havia nada lá, apenas o mesmo chão árido, mas ele parecia ver algo, parecia sentir algo e pela primeira vez o rosto apático do deus da morte muda para um rosto de ódio puro.
Não era possível ver ao primeiro olhar o que exatamente Thanatos fitava com tanto ódio, mas pouco a pouco um estranho vulto foi tomando forma. Era enorme e de um tom marrom terroso, mais de quatro metros de altura. Possuía grandes braços fortes e musculosos terminando em mãos grandes e robustas. Suas pernas eram ligeiramente pequenas para o seu tamanho, mas ele usava os braços como forma de apoio também. Em seus ombros havia diversos grandes olhos fendados. Suas costas eram cobertas pela mais dura pele cheia de espinhos. Sua cara era de um demônio. Tinha dentes afiados, rugia como um animal e não parecia ser de todo esperto.
Não era uma visão bonita de se ver, era um monstro realmente amedrontador. Mas Thanatos parecia realmente furioso em vê-lo. Sacou sua espada e partiu para cima da besta com toda sua fúria, como nunca havia feito antes.